|
|
E DEPOIS VEIO A CHUVA ... E A CHUVA ...
A chuva derrubou as pontes. A chuva transbordou os rios. |
A chuva molhou os transeuntes. A chuva encharcou as |
praças. A chuva enferrujou as máquinas. A chuva enfureceu |
as marés. A chuva e seu cheiro de terra. A chuva com sua |
cabeleira. A chuva esburacou as pedras. A chuva alagou a |
favela. A chuva de canivetes. A chuva enxugou a sede. A |
chuva anoiteceu de tarde. A chuva e seu brilho prateado. A |
chuva de retas paralelas sobre a terra curva. A chuva |
destroçou os guarda-chuvas. A chuva durou muitos dias. A |
chuva apagou o incêndio. A chuva caiu. A chuva |
derramou-se. A chuva murmurou meu nome. A chuva ligou o |
pára-brisa. A chuva acendeu os faróis. A chuva tocou a |
sirene. A chuva com a sua crina. A chuva encheu a piscina. |
A chuva com as gotas grossas. A chuva de pingos pretos. |
A chuva açoitando as plantas. A chuva senhora da lama. A |
chuva sem pena. A chuva apenas. A chuva empenou os |
móveis. A chuva amarelou os livros. A chuva corroeu as |
cercas. A chuva e seu baque seco. A chuva e seu ruído de |
vidro. A chuva inchou o brejo. A chuva pingou pelo teto. A |
chuva multiplicando insetos. A chuva sobre os varais. A |
chuva derrubando raios. A chuva acabou a luz. A chuva |
molhou os cigarros. A chuva mijou no telhado. A chuva |
regou o gramado. A chuva arrepiou os poros. A chuva fez |
muitas poças. A chuva secou ao sol. Arnaldo Antunes |
Nenhum comentário:
Postar um comentário